Aqui, na Terra, a fome continua,
A miséria, o luto, e outra vez a fome.
Acendemos cigarros em fogos de napalme
E dizemos amor sem saber o que seja.

Mas fizemos de ti a prova da riqueza,

E também da pobreza, e da fome outra vez.

E pusemos em ti sei lá bem que desejo

De mais alto que nós, e melhor e mais puro.

No jornal, de olhos tensos, soletramos
As vertigens do espaço e maravilhas:
Oceanos salgados que circundam
Ilhas mortas de sede, onde não chove.
Mas o mundo, astronauta, é boa mesa
Onde come, brincando, só a fome,

Só a fome, astronauta, só a fome,

E são brinquedos as bombas de napalme.



Fala do velho do Restelo ao astronauta

(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

4 comentários:

Anónimo disse...

Adorei o texto.
Tah msm mt legal!
E a foto eu tb gstei.
Adoro a foto, apesar de triste tem uma certa beleza ;)

bj

Catia Soares disse...

Realmente, este teu blog é só agradaveis surpresas... Coisas que sabem tão bem ler! Este "Poemas Possiveis" de Saramago é-me tão familiar! :) Cresci a ouvir a alguns deles!;)

E qto à foto... A sua beleza já foi reconhecida mundialmente e o que ela transmite não precisa de mais palavras! Fala por si só... :)

Anónimo disse...

eia..eia
q olharzinh perdido d 1 menino..olhar d esperança ou n??sofrimento??
1 olhar puro e ingenuo contra a malvadez dos homens...
o texto ta lindo cm os outros

1 bjoka enorme
**berling**

.c disse...

Tudo faria mais sentido se a lua fosse um queijo. Talvez tivesse tamanho suficiente para matar muita fome.
Mas a lua não foi feita para se comer. Se calhar a lua foi feita só para se olhar, de longe.